Pesquisando...
domingo, 29 de setembro de 2013

Alguma coisa sobre a experiência humana da solidão de coração

Ainda não tive oportunidade de estudar mais a fundo os mestres do existencialismo, mas o tema da busca pela significação da própria vida para, então, vivê-la apaixonadamente, apesar da angústia ou ansiedade próprias da existência humana parece ser comum a todos aqueles que teimam em pensar um pouquinho mais sobre si mesmos e sobre o mundo no qual estamos inseridos.

Depois de alguns estudos e vivências nesse primeiro semestre em Belo Horizonte, sinto como se tivesse perdido uma porção de escoras nas quais eu me apoiava inconscientemente. Livrar-me desses apoios permitiu que eu relativizasse muita coisa e, acabou me ajudando a perceber que existem também coisas que são essenciais e, por isso, não se deve abrir mão delas. São justamente essas coisas que nos sustentam na nossa peregrinação terrena, dentre elas ressalto: o amor de Deus e a busca por viver esse amor já aqui (tanto quanto possível a cada um de nós).

Não quero abordar, nesse momento, o tema do amor de Deus ou da percepção/vivência desse amor, isso poderá ser motivo de outro texto no futuro. Apenas pretendo partilhar algumas inquietações sobre a bendita angústia existencial que pode surgir quando se toma consciência de que, não importa o que faça ou pense, cada um é um ser-separado no mundo, cada um é um ser individual e, por isso, precisa buscar/encontrar por si o significado mais profundo da própria existência, aprender a suportar certa solidão em alguns momentos, aprender a ser presença diante dos outros indivíduos e reconhecer as diversas outras presenças que acontecem diante de si.

É sabido que a vida religiosa consagrada - especialmente a apostólica (aqueles cujas atividades estão mais focadas na missão e atividades externas à comunidade religiosa em que se vive) - implica certa "intensa vida social", pois encontramos muitas pessoas nas diversas atividades em que estamos envolvidos. A casa, a agenda, os grupos estão normalmente cheios e, se não tomamos cuidado, somos arrastados por um turbilhão de acontecimentos... Essa muvuca muitas vezes nos leva a esquecer essa separação existencial que existe entre os indivíduos. Somos seres sociais, mas somos também seres individuais e, por isso, precisamos aprender a viver essa profunda solidão existencial que habita em nossos corações e que emerge quando estamos sozinhos.

Certa vez, li um texto que fala do sentido do voto de castidade como entrega por amor ao Senhor e como meio de juntar-se a ele no serviço do Reino, entretanto, o texto é realista ao ponto de ressaltar (e até detalhar) também o preço doloroso dessa entrega: profunda solidão de coração, renúncia do desejo humano de constituir família e de partilhar a vida numa intimidade conjugal, de ter uma família e pertencer a ela, entre outras coisas boas que a existência humana pode nos oferecer. Obviamente, outros motivos de satisfação interior serão encontrados, alguns muito profundos, mas não aplacarão completamente o vazio deixado por essa condição de renúncia, mas, se aplacasse, a pessoa não seria mais humana.

Para mim, essa solidão existencial de coração é algo muito presente, sempre o foi. Ora mais forte, ora mais fraca, mas é presente em cada partícula do meu ser. É claro que, se eu não tivesse me feito jesuíta, essa solidão estaria presente num grau muito menor, mas eu ainda a teria porque, como disse antes, ela faz parte da condição humana de ser-separado. Muitas vezes ela se manifesta no silêncio e recolhimento do quarto, mas pode acontecer (e não é raro) que aconteça quando se está numa multidão e se toma consciência de que nenhuma das pessoas presentes, nem mesmo a beleza natural mais maravilhosa do mundo, é capaz de te preencher totalmente, de fazer com que você fique plenamente em paz e se sinta completo. Humanamente e materialmente se está, de fato, só.

Mas, então, penso que esse vazio que sinto deve ser algum tipo de motor de busca e preciso aprender aproveitar a energia dele - muitas vezes energia afetiva e sexual - para encontrar aquilo que dá significado mais profundo à minha existência, que me faz sentir mais presente no mundo, parte do mundo, integrado ao mundo e, por isso, me dá capacidade de transcender e de lançar-me inteiramente em direção a ele com coragem, ousadia, determinação e esperança.

(Texto escrito em meados de setembro de 2013)

0 comentários:

Postar um comentário

 
Voltar ao topo!