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terça-feira, 30 de abril de 2013

"Saber amar, saber deixar alguém te amar..."

"A vida sem freio me leva, me arrasta, me cega. No momento em que eu queria ver..." (Paralamas do Sucesso)

É incrível a nossa capacidade de machucar a quem amamos. Quando achamos que temos o mundo em nossas mãos, ele vem, puxa nosso tapete e caímos com a bunda no chão, estatelados, atônitos. Normalmente, isso  parece acontecer quando vivemos a vida de modo a tentar não nos preocuparmos muito com a consequência de certas atitudes que fazemos e, então, caminhamos meio que "empurrando com a barriga" e ignorando nossa intuição.

É certo que certa dose de ambiguidade é importante para que cresçamos como pessoa. Quando afirmo que a ambiguidade é necessária quero dizer que apenas no confronto com o diferente, ou melhor, com sentimentos que são fonte de questionamentos dos nossos valores e convicções é que podemos crescer enquanto seres humanos.

Hoje, as pessoas interagem muito mais do que há dez anos atrás, isso é um fato inegável. Essa interação tem possibilitado uma vasta gama de experiências e, por isso, de oportunidades de verificação mais profunda de quem nós somos e do quanto podemos suportar ou não. A questão é que - como a própria palavra "interação" sugere - não há apenas uma pessoa na história, há sempre um outro que age, mas que também sofre.

Escrevo isso aqui justamente para dizer que é com o outro que devemos estar preocupados. É preciso afirmar isso com vontade e constância para ver se entra em nossa mente e coração, para ver se aprendemos que o que mais importa é, tanto quanto conseguimos, não criar traumas ou abrir feridas no outro, pois a cura nunca depende de nós e, muito provavelmente, não daremos conta de sarar.

É realmente uma pena que, muitas vezes, quando um relacionamento com intensa carga afetiva chega ao seu final o que permaneça seja o vazio do fim de uma festa terminou cedo, isto é, o momento em que somos defrontados com nossas angústias, nossa solidão existencial e nossa incapacidade de sermos bons como achávamos que deveríamos ser.

Tenho a impressão de que é como se ficássemos sentados com um copo e uma garrafa de vinho na mão, levemente abaixada, e, de repente, nos deparássemos com as pessoas já recolhendo as mesas e, enfim, tomássemos consciência de que estamos sós e que a festa acabou. Nesses momentos, a vida como que nos escapa por entre os dedos da mão e nos damos conta de que ela é muito maior do que nós, de que não podemos compreender todas as realidades humanas e que não adianta nosso esforço em querer dominá-la e jogar com ela porque, ao final da partida, ela sempre ganhará e, depois de espernear porque não vencemos o terrível embate, olhamos para o lado e enxergamos prostrados aqueles que amamos. Em nossa ânsia por viver, acabamos machucando aqueles que estavam conosco.

Quando isso acontece, perdemos uma oportunidade única de termos sido diferentes, de termos sido, de fato, bons para a outra pessoa. Obviamente, é necessário fazer a ressalva de que é possível que, nos momentos anteriores, fomos tão bons quanto nossas limitações e carências afetivas nos permitiram ser. Por isso, é preciso um olhar misericordioso para com nossa frágil condição humana, com nossa infeliz ambiguidade. Entretanto, esse olhar misericordioso não nos isenta da tragédia inerente à contradição. Tragédia porque, nesses momentos, ela é arma de destruição e não de cura. 

O amor implica em cuidado, em atenção ao outro, em não invadir o espaço sagrado do outro que é a afetividade. Quando amamos e invadimos esse espaço decretamos a falência do amor e tudo o que ele pode representar de belo. Traímos ao outro, traímos a nós mesmos. Precisamos aprender a respeitar, aprender a "saber amar" e a "saber deixar alguém" nos amar.

Fiquemos com a canção "Saber amar" dos Paralamas do Sucesso. Ouça e saboreie.




1 comentários:

  1. "Quando achamos que temos o mundo em nossas mãos, ele vem, puxa nosso tapete e caímos com a bunda no chão, estatelados, atônitos..." - Não poderia ter dito melhor.

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