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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Novos tempos, novos paradigmas

Fomos todos pegos meio que "de surpresa" pelo anúncio da renúncia próxima do papa Bento XVI. É verdade que já se supunha a possibilidade de que ele, mais cedo ou mais tarde, renunciasse ao governo da Igreja, especialmente quando aceitou a renúncia do Padre Peter-Hans Kolvenbach (que foi Superior Geral dos Jesuítas).

Mas, apesar dos vários sinais que se davam da possibilidade de ele renunciar, muitas pessoas se assustaram com a notícia, pois não é um fato corriqueiro que um papa deixe de ser papa por vontade própria. Ainda mais para nós que, nascidos na década de 80, vivemos quase toda a nossa vida sob o pontificado do papa João Paulo II (um dos mais longos da história) e que agonizou terrivelmente diante das câmeras do mundo todo. 

Devo confessar que tenho profunda reverência e admiração por Bento XVI desde que li algumas de suas obras e a sua biografia no livro "Sal da Terra" com Peter Seewald. Ele é um grande pastor, uma pessoa muito bem preparada e que tem conduzido e unido a Igreja nesses tempos modernos. Agora, eu o admiro muito mais pela coragem de não apenas compreender que não tem mais condições humanas de continuar, mas também de, ao perceber isso, expressar em forma de decisão sua compreensão. Penso que essa decisão do papa de renunciar enquanto tem pleno uso de suas faculdades mentais e físicas seja, na verdade, uma mudança de paradigma e um grande exemplo para todo o mundo.

Quantas pessoas, especialmente as envolvidas com o governo civil, lutam para se perpetuarem no poder, brigam por cargos, privilégios e muitas outras "dignidades"? Mesmo dentro da Igreja conhecemos pessoas que já passaram da hora de se aposentar. O exemplo do papa Bento XVI deveria ser aprendido por todos nós. Definitivamente, a renúncia papal foi o que podemos chamar de um gesto profético! 

Tanto o antigo Superior Geral dos Jesuítas (P. Kolvenbach) quanto o Papa interpretaram que o "vitalício" não diz necessariamente respeito à "enquanto houver vida", mas "enquanto houve vitalidade". Não adianta termos um homem cansado, esgotado e que não tem condições físicas e mentais de dar conta do serviço que se espera dele. Aliás, ao completar 75 anos um bispo é obrigado a se aposentar (os cardeais aos 80 anos), justamente porque já não teria condições de governar devido à velhice. Isso é compulsório. Ele não tem escolha... Ao completar essa idade ele tem que pedir a aposentadoria e deixar de exercer a função de bispo titular de um lugar. E, na prática, o Papa só é Papa porque é "bispo de Roma".

Agora, só temos que rezar para que Deus nos dê um pastor à altura de Bento XVI. Que saiba conduzir a Igreja nesse mundo em constante transformação. Um pastor que nos ajude a identificar "os sinais dos tempos" para reconhecer a presença do Cristo Ressuscitado no mundo fragmentado em que vivemos. Cristo ressuscitou, precisamos aprender a enxergá-lo atuando no mundo, na história, nas nossas relações e também nas nossas limitações. Foi isso que o papa Bento XVI fez e é isso que precisamos continuar fazendo. Sempre, a cada instante.

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Abaixo um resumo da catequese do papa aos fiéis de língua portuguesa veiculada hoje pela Radio Vaticana:


"Queridos irmãos e irmãs, hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa. Estes quarenta dias de penitência nos recordam os dias que Jesus passou no deserto, sendo então tentado pelo diabo para deixar o caminho indicado por Deus Pai e seguir outras estradas mais fáceis e mundanas. Refletindo sobre as tentações a que Jesus foi sujeito, cada um de nós é convidado a dar resposta a esta pergunta fundamental: O que é que verdadeiramente conta na minha vida? Que lugar tem Deus na minha vida? O senhor dela é Deus ou sou eu? De fato, as tentações se resumem no desejo de instrumentalizar Deus para os nossos próprios interesses, em querer colocar-se no lugar de Deus. Jesus se sujeitou às nossas tentações a fim de vencer o maligno e abrir-nos o caminho para Deus. Por isso, a luta contra as tentações, através da conversão que nos é pedida na Quaresma, significa colocar Deus em primeiro lugar como fez Jesus, de tal modo que o Evangelho seja a orientação concreta da nossa vida.
Amados peregrinos lusófonos, uma cordial saudação para todos, nomeadamente para os grupos portugueses de Lamego e Lisboa, e os brasileiros de Curitiba e Porto Alegre. Possa cada um de vós viver estes quarenta dias como um generoso caminho de conversão à santidade que o Deus Santo vos pede e quer dar! As suas bênçãos desçam abundantes sobre vós e vossas famílias! Obrigado!"

Fonte: http://www.news.va/pt/news/audiencia-agradeco-a-todos-pelo-amor-e-pela-oracao

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